Quando estava no pré, tinha por volta de cinco ou seis anos, minha professora deu uma atividade para colorir. Era o desenho de um cachorro (se não me engano do Scoobdoy) que ocupava toda a folha. Colori o cachorro de vermelho com manchas pretas. Esse foi o meu primeiro e grande erro! Talvez o pior de toda a minha vida. Porque as conseqüências geradas pela escolha das cores perpetuaram por longos tempos o que me fez desinteressar pela Educação Artística por longos anos. Explico melhor o porquê. O desapontamento de minha professora sobre o cachorro que de vermelho colori, foi tão grande que ela mal conseguia falar, mas os olhos e o movimento das sobrancelhas demonstrando o horror do que via ficou em minha memória. Como se não bastasse, o choque da professora sobre o desenho, ela desinquieta desabou questões tentando interpretar o que se passava pela minha cabeça. “Você já viu um cachorro vermelho?”, “por que você fez isso?”, “não sabe colorir?” Levou meu desenho para uma junta de freiras para interpretar “os sinais” de que eu estava demonstrando ser uma criança perturbada.
O mais interessante é que meus colegas foram solidários, ninguém riu, o que hoje seria um forte motivo para pegar no meu pé por muito tempo. Apenas um coleguinha me deu silenciosamente o lápis marrom gesticulando que aquela era a cor correta. Passei os olhos sobre algumas carteiras por perto e vi que os cachorros de outros colegas ou eram pretos ou marrons. Me senti uma burra, era a mais débil da sala. Como se fosse pouco aquela cena vexativa, ainda levei um puxão de orelha pelo feito, vocês não imaginam como dói um puxão de orelha de uma freira... dói muito, dói demais! Tudo isso porque colori o inferno do cachorro de vermelho. Depois disso, nunca busquei uma iniciativa em tarefas que envolvia arte, desenho, cores. Fazia tudo forçado para cumprir a sentença. Entretanto, passei a me interessar mais pelas letras, escrita, histórias. A escola era muito desinteressante, por isso matava aula pra ir para a biblioteca (desculpa mãe – ela ainda não sabe disso). O desejo que tinha pela leitura me deixava mais livre e não precisava dos professores para ler, logo não levava tanta bronca – essa era a relação que fazia. Quando lia coisas bizarras, tipo “pato falando”, me incomodava um pouco, mas pelo menos não era eu que havia dito que o pato falou... aí não sofria tanto, porque não fui eu que inventou que ele fala.
Cresci, virei professora (pode?), me tornei mãe. E hoje pasmem!! Comprei um cachorro grande de pelúcia VERMELHO para meu filho. Não tinha muito dinheiro para a compra e nem estava procurando por um cachorro vermelho, ele estava ali, na loja, esperando por mim há anos, e tinha a certeza de que meu filho iria adorar o presente.Me delirei de prazer ao ver meu filho de dois anos gritando: “memelho, memelho, mamãe!”. Foi pura vingança. Gritei junto com ele, “é, meu filho, o cachorro é vemelho”. Quando meu filho pintar um cachorro de vermelho ou azul ou a cor que ele acha que tem que ser... espero que minha interpretação seja baseada no mérito da autonomia dele, no poder de criação e recriação e, sobretudo, entender que a imaginação é por absoluta livre e feliz.
Um comentário:
Eu adoreiiiiiiiiiiiii
Memelho é minha cor preferida!!!!!
Uma boa tentativa para gostar de cachorros seria pinta-los de vermelho.........
Interpretar é valorizar as diferenças, é respeitar a individualidade e saber viver em coletividade e, sobretudo é promover o crescimento próprio e o do outro.
O Gustavo quando adulto vai ser muito GRANDE , hj ele já é um garoto que se sobressai e muito especial !!!
e vc Toto, a cada dia, se dignifica mais e mais com seu exemplo de mãe !!!
Gostei muito do seu texto
Me lembrei de vc pequenininha .... interessadíssima por livros, concentrada estudando, sempre lendo, sempre tão diferente de todos.
Bochecha rosada, chupando língua, silencio, voz baixa, livrinhos, cadernos, capricho, organização, sonhos.........
Parabéns , te admiro
Cris
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